“Alemão é difícil, talvez a língua mais difícil de todas”.
Quem nunca escutou isso, que atire a primeira pedra.
É impossível dizer onde esse mito começou. Mas ele persiste até hoje, mesmo sendo baseado em argumentos falsos.
Nesse post, você vai ver porque isso não é verdade.
Alemão é o idioma mais difícil – será?
Confesse: você também já passou por essa situação constrangedora.
Você está conversando com alguém e, ao contar que você estuda alemão, a pessoa reage em estado de choque, como se você tivesse revelado que contraiu uma doença degenerativa.
Pode até ser que você goste de causar essa reação nas pessoas.
Pode ser que você sinta um certo constrangimento.
Como quer que seja, as pessoas parecem levar a sério demais aquela ideia (sem fundamento) de que “só é possível filosofar em alemão”.
Essa ideia de que o alemão é um idioma difícil – ou até mesmo o mais difícil de todos – é um mito que você precisa abandonar agora.
Além de não te ajudar a progredir nos estudos no idioma, isso não tem nenhum fundamento real.
E, para provar isso, vamos analisar alguns dos argumentos mais frequentes e mostrar porque eles não fazem sentido.
Vamos lá?
Clube de Conversação Germanofonia
Supere a timidez e as lacunas de gramática e veja sua voz se soltando em alemão com mais naturalidade e menos gaguejadas!
Aprender alemão dá trabalho
Claro que sim.
Assim como aprender qualquer outra língua estrangeira com seriedade.
Aprender alemão não exige mais esforço do que aprender inglês, francês italiano ou mandarim.
Qualquer pessoa que leva a sério seu aprendizado precisa empenhar energia e esforço. Não importa se ela está aprendendo alemão, espanhol, esperanto, confeitaria, arco-e-flecha ou meditação.
A vida é muito curta para aprender alemão
Se você leva muito a sério o estudo de qualquer área do conhecimento, ela vai te levar a vida inteira, não importa se é biologia marinha, egiptologia, mecânica celeste, matemática financeira, antropologia ou … língua alemã.
Na verdade, tudo depende bastante do seu nível de comprometimento com o aprendizado e com sua consciência do quão longe você quer chegar.
Frases assim te induzem a acreditar falsamente que está todo mundo lá fora se divertindo, saindo, viajando, bebendo etc., enquanto só você está desperdiçando o precioso tempo da sua (única) vida estudando alemão.
Não por acaso, quem costuma repetir esse bordão são pessoas que procuram sempre recompensas rápidas e fáceis.
A gramática alemã é complicada demais
Linguisticamente falando, toda língua tem o seu grau de complexidade.
Do ponto de vista científico, não faz sentido afirmar que a gramática de uma língua é mais complexa do que outra. Dizer que uma língua é mais complicada, significa dizer que existem outras línguas mais rudimentares.
E isso é simplesmente incorreto.
Pode até parecer razoável para o senso comum, mas essa ideia já foi provada falsa pelas ciências da linguagem já faz tempo.
E você não quer continuar espalhando por aí ideias cientificamente erradas, não é?
A língua alemã tem declinações e isso torna tudo mais complicado, sim!
Memorizar declinações de artigos e adjetivos pode dar trabalho. Ainda mais se a gramática da sua língua materna não tem essa característica.
Porém, não é verdade que toda a gramática do alemão é mais complexa por causa disso.
A gramática de uma língua é uma máquina constituída por muitas peças. E não é uma única que torna o conjunto todo mais complicada.
Se você já estudou um pouco de alemão, já deve ter chorado ao ver as tabelas de declinações com quatro casos
- nominativo
- acusativo
- dativo
- genitivo
Mas dizer que o alemão é o idioma mais difícil é um tanto de exagero!
O alemão não é a única língua com declinações, mas nem de longe!
Além isso, há outros idiomas com mais casos. Por exemplo, o russo tem 6 casos diferentes:
- Nominativo
- Acusativo
- Preposicional
- Dativo
- Instrumental
- Preposicional
Você continua achando alemão a língua mais difícil do mundo? Então sente o drama do russo:
Já uma língua como o finlandês tem nada menos do que 16 declinações:
- Nominativo
- Genitivo
- Acusativo
- Partitivo
- Inessivo
- Elativo
- Ilativo
- Adessivo
- Ablativo
- Allativo
- Essivo
- Translativo
- Instrumentativo
- Abessivo
- Comitativo
Existem ainda muitas outras línguas no mundo com declinações de caso.
Boa parte delas tem mais casos do que o alemão.
Ou seja: mesmo sob esse ponto de vista, seria errado dizer que o alemão é a língua mais difícil.
A propósito, o português também tem casos que se aplica ao sistema de pronomes, que é bastante dinâmico e complexo, aliás.
Ou seja, essa desculpa de que as declinações de caso fazem do alemão impossível de aprender não cola mais!
O verbo muda de posição toda hora
Apesar de parecer complexas, as regras de colocação do verbo na frase em alemão são bem simples e previsíveis na verdade.
Alguns “modelos” de frase ajudam a prever a posição do verbo de maneira muito rápida e precisa. Isso agiliza – e muito! – o seu raciocínio na hora de falar.
As regras são bem simples:
- Verbo conjugado no final: orações subordinadas ou infinitivas.
- Verbo conjugado na primeira posição: orações interrogativas ou imperativas
- Verbo conjugado na segunda posição: todas as demais situações
Se você observar bem, perceberá que a posição do verbo em português também muda bastante.
Mesmo sendo falantes nativos, nem sempre conseguimos explicar muito bem o motivo.
Compare, por exemplo, as frases:
- Chegaram as cartas
- As cartas chegaram
Essa troca de posição entre verbo e sujeito parece bastante tranquila, não é?
Agora olhe o próximo par de frases e tente explicar porque o verbo na primeira posição não funciona tão bem:
- O porteiro abriu a porta
- [?] Abriu o porteiro a porta
Se você deu uma bugada aqui, é porque isso não é tão difícil em alemão quanto parece.
Ou talvez o português não é tão fácil quanto você pensava.
A língua alemã tem muitas palavras para a mesma coisa
Provavelmente você sentiu uma certa frustração ao aprender que as palavras Brieftasche, Portemonnaie e Geldbeutel significam “carteira” em alemão.
Muitas pessoas se impacientam em descobrir que existem várias palavras diferentes para um mesmo conceito.
Sinto muito te informar que isso está longe de ser uma exclusividade do alemão.
Na verdade, isso acontece em todas as línguas.
É essa propriedade do vocabulário que garante a flexibilidade da língua e possibilita sua eficácia na comunicação.
Se tivéssemos somente uma palavra para cada ideia e somente uma ideia para cada palavra, iríamos nos comunicar como robôs.
Entender a gramática alemã exige raciocínio lógico
Estranhamente, muitas pessoas parecem acreditar piamente que o alemão é uma língua mais lógica.
Em um fórum na internet, uma pessoa comenta que, se trabalhasse em engenharia, preferiria falar em alemão porque “é uma língua mais lógica do que o inglês”.
Essa ideia incorreta sempre aparece quando a pessoa conhece pela primeira vez as tabelas de declinação e conjugação em alemão.
Ao olhar para os cruzamentos de casos e gêneros, muitas pessoas imaginam que a gramática do alemão é complexa e exige raciocínio lógico.
Isso é uma meia-verdade.
Muitos pontos da gramática do alemão não seguem uma lógica tão harmônica assim quanto dizem por aí.
Existem vários contraexemplos que mostram como isso não é verdade.
Um deles é o gênero de substantivos primitivos, que é atribuído de maneira arbitrariamente.
Não existe nenhuma evidência nem na forma, nem no significado de palavras como:
- Wein (vinho)
- Brot (pão)
- Arbeit (trabalho)
que expliquem por que elas tem, respectivamente, gênero masculino, feminino e neutro.
Outro caso clássico são substantivos compostos que parecem não fazer muito sentido, como usar a palavra “galo d’água” (Wasserhahn) para querer dizer “torneira”.
Resumindo: prestando bem atenção, toda língua vai revelar sua cota de estranhezas pouco lógicas.
A gramática alemã tem exceções demais
Reclamar de exceções é um clássico e quem está estudando alemão – e não sem razão.
Elas realmente são mais difíceis de memorizar. Não raramente, são também as palavras mais usadas no cotidiano.
Mas isso é muito diferente de dizer que o alemão tem exceções demais ou que ele tem mais exceções do que em outras línguas.
Elas são um resultado natural do processo histórico de formação da língua. Ou seja, o alemão tem lá suas exceções às regras gramaticais, sim. Mas isso acontece inevitavelmente em todos os idiomas.
A pronúncia em alemão é difícil, áspera e bruta
Muitas pessoas acreditam que os alemães falam cuspindo, gritando, que estão sempre xingando, mas isso é apenas um estereótipo que, no fundo, não faz sentido.
A verdade é que, se você forçar bastante, qualquer língua vai parecer grossa e bruta.
Existem realmente alguns aspectos da fonética do alemão que podem soar mais duros para um falante de português.
Um exemplo é que, em alemão, o modelo padrão de sílaba é consoante-vogal-consoante.
De todo modo, isso é totalmente está muito longe de dizer que o alemão é uma língua difícil ou impossível de aprender.
A língua alemã tem muitos artigos
Outro mito bastante frequente é que o alemão seria uma língua mais difícil por ter muitos artigos.
Quanto ao gênero de substantivos, o português tem apenas masculino e feminino.
Já o alemão tem masculino, feminino e neutro. (der, die, das) Além disso, cada qual deve ser declinado no caso correto (nominativo, acusativo, dativo, genitivo).
O resultado dessas combinações costuma assustar os iniciantes. Muita gente faz comparações com o inglês, que tem apenas um artigo definido (the). Por isso, o inglês seria mais fácil – é o que alegam essas pessoas.
A grande falha desse argumento é assumir que uma língua é mais complicada porque tem formas diferentes de artigos.
Muitas línguas não têm artigos. Por exemplo, é o caso do japonês, do finlandês e do chinês, entre tantas outras.
Mas ninguém fica falando que essas línguas são mais fáceis de aprender, certo?
Para resumir
Essa história de alemão como língua difícil (ou mesmo impossível) é bastante popular, mas incorreta.
Os argumentos usados são sempre falhos e pobres em evidências concretas. Muitas vezes, eles usam um único aspecto da gramática como prova cabal, ignorando toda a riqueza e as nuances da língua.
No fundo, insistir nessa ideia só serve para reforçar o outro mito de que “só é possível filosofar em alemão”.
Além de não ser verdade, essas ideias inibem muitas pessoas de desenvolver todo o seu potencial no idioma.
Você já escutou outros argumentos defendendo que o alemão é difícil?
E o que você acha desses argumentos? Conte para nós aqui nos comentários!
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