Sim, o alemão já foi proibido no Brasil.
Agora imagine que o inglês também tivesse sido proibido.
Será que conheceríamos tanta música em inglês?
Será que assistiríamos tantos filmes e seriados em inglês?
E se não tivéssemos isso, será que tantas pessoas estudariam inglês?
Sem tanto contato com o inglês, continuaríamos achando o alemão mais difícil?
Acho que não.
Alemão proibido no Brasil?
No Brasil, há uma política linguística que tenta impor o monolinguismo.
Essa pressão pela uniformização linguística vem de longo tempo na história e acontece de maneira às vezes mais explícita, às vezes mais implícita.
Falando em termos bem genéricos, a ‘limpeza linguística’ atinge todos os idiomas que não sejam o português.
Em alguns casos, mesmo as variantes do próprio português são censuradas, tanto por meios institucionais e oficiais quanto por meios mais camuflados no dia-a-dia.
O mais impressionante é saber que, em alguns casos, essas proibições foram implementadas oficialmente e por meios legais. Em outras palavras, o Estado veta o uso de um idioma.
Assim, é muito difícil esperar que esse idioma se popularize.
Com muito menos acesso a material escrito e falado nessa língua, é claro que as possibilidades de aprendê-la ficam bem comprometidas [mas mesmo assim não impossíveis].
Basicamente, é o que aconteceu com o alemão no Brasil.
Nesse post, quero destacar dois pontos críticos decisivos para o enfraquecimento desse idioma no nosso país.
Getúlio Vargas [1930-1945; 1950-1954]
O governo Getúlio Vargas implementou uma série de medidas que faziam parte de sua campanha de nacionalização. O movimento tinha a intenção de valorizar a cultura brasileira e fortalecer a unidade nacional.
Na prática, as medidas acabam ganhando um contorno patriota e de teor xenófobo.
No caso da educação, esse projeto teve um impacto forte.
A partir de 1938, o ensino de línguas estrangeiras era proibido para menores de 14 anos.
Apenas brasileiros natos ou naturalizados poderiam trabalhar como professores. Isso quer dizer que as escolas criadas nas colônias que lecionavam na língua dos imigrantes eram ilegais e podiam, sim, ser fechadas pelo governo.
Segundo o próprio site do instituto, esse tipo de escola retratado na foto perdurou justamente até 1939.
Para saber mais sobre a política linguística na Era Vargas, recomendamos a tese de doutorado de Cynthia Machado Campos disponível aqui.
A situação era ainda pior no caso do alemão, do italiano e do japonês.
Naquela época, essas eram as línguas dos países que constituíam o Eixo, adversários do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
A repressão chegou a tal nível a ponto de incinerar livros e documentos escritos nessas línguas.
Jânio Quadros [1961]
Ao que parece, o conservadorismo linguístico de Jânio Quadros é mais baseado em folclore do que em evidências documentais.
Pelo menos até onde pude descobrir, Jânio nunca usou de fato nenhum meio legal para proibir o uso de estrangeirismos no Brasil [alguém tem informações concretas?], ao contrário dos biquínis, rinhas de galo e lança-perfumes.
Também há muito mais lenda do que fato nas frases exóticas que ele supostamente teria pronunciado: “fi-lo porque qui-lo” ou “bebo porque é líquido, porque se fosse sólido comê-lo-ia”.
Mesmo sem leis ou decretos, o governo Jânio é outro marco importante para entendermos porque o alemão é tão raro entre nós – ainda hoje!
Naquele momento histórico, o mundo se separava pelas linhas invisíveis da Guerra Fria e o Brasil estava voltado para o lado norte-americano.
Por sua vez, a Alemanha se encontrava dividida. Literalmente.
Como vencedores da guerra, os Estados Unidos exerciam sua influência cultural sobre os países ocidentais menos expressivos – por assim dizer – e entre eles, o Brasil.
[Já reparou na quantidade de músicas dessa época que falam do Tio Sam?]
O papel da influência cultural norte-americana
Nesse ponto, a indústria cultural norte-americana infla sua presença por aqui.
A rejeição de Jânio Quadros aos estrangeirismos é justamente uma reação a esse tipo de movimento.
Ou seja: mesmo quando o alemão não estava proibido no Brasil oficialmente, ele ficou recluso aos redutos culturais dos imigrantes.
Por sua vez, outras línguas tinham passe livre.
O francês era a língua estrangeira ensinada no ensino básico. Depois, o inglês toma seu lugar por conta do cenário político-econômico internacional.
Na educação brasileira, o prestígio cultural da França perde terreno para o poderio econômico dos Estados Unidos.
Perceba que, nessa dança das cadeiras, o alemão nunca chegou a ter uma posição de destaque.
Não é à toa que, hoje em dia, é muito difícil encontrar filmes, música ou mesmo livros em alemão aqui no Brasil.
Coincidência? Acho que não.
Para concluir
Antes de sair falando por aí que alemão é mais difícil do que inglês, acho interessante fazer colocar perguntas básicas começando por “Continuaríamos achando alemão mais difícil se… “
- … o país não tentasse apagar todo e qualquer tipo de variedade linguística?
- … o alemão não tivesse sido proibido no Brasil por lei [mesmo há tanto tempo atrás]?
- … o Brasil não se alinhasse aos Estados Unidos na Guerra Fria?
- … o ensino básico ensinasse o alemão como língua estrangeira ao lado do inglês?
Repare bem que não tocamos na questão da gramática em nenhum momento.
É isso o que acontece em boa parte dos casos.
Vários argumentos sobre qual língua é “mais difícil” sequer chegam nesse ponto.
Muitas vezes, a impressão de “dificuldade da língua” é apenas uma falsa impressão causada por outros fatores não necessariamente relacionados à sua estrutura gramatical.
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