Em uma conversa descontraída, sempre tem alguém que solta uma frase mais ou menos assim: “nossa, como tal pessoa é inteligente, fala muitas línguas”.
Enquanto todo mundo se admira, eu só consigo pensar em uma coisa: “por que será que falar muitas línguas é tido como sinal de maior inteligência?”.
Antes de tudo, vamos combinar uma coisa desde já: essa história de “mais inteligente” é algo que precisamos deixar para trás com a maior urgência possível.
Já é mais do que sabido que existem vários tipos de inteligência: lógico-matemática, linguística, corporal, intrapessoal, interpessoal, espacial, entre outras. É claro que as classificações podem variar de acordo com cada fonte que você consultar. Mas a ideia básica é sempre a mesma:
Inteligência não é um atributo único e linear.
Como as coisas funcionam para você?
Tudo bem, parece mais ou menos claro que existem tendências. Algumas pessoas parecem funcionar muito melhor em determinadas inteligências do que em outras.
Há algumas pessoas que trabalham bem com o lado racional e analítico.
Outras se saem melhor em tarefas que envolvem sensibilidade. Algumas precisam analisar a situação antes de agir, enquanto outras preferem experimentar e se deixar levar pela intuição.
É difícil negar isso: as pessoas simplesmente funcionam de maneira diferente.
Diferenças individuais no aprendizado de idiomas
Basta abrir bem os olhos para constatar esse fato cotidiano com as pessoas ao nosso redor.
No caso do aprendizado de línguas, essas diferenças ficam incrivelmente claras na estratégia que cada aluno adota para cumprir uma tarefa.
Considerando tudo isso, fica bem mais difícil admitir pacificamente que falar várias línguas é um selo de qualidade que certifica a inteligência de alguém.
Tudo bem, uma pessoa que domine com perfeição seis idiomas pode de fato ter uma inteligência linguística mais afiada.
O que não significa que ela tenha o mesmo potencial para outras áreas.
Por exemplo, tarefas que exigem habilidade manual, empatia, consciência corporal entre tantas outras.
Existem muitos tipos de competências diferentes. As possibilidades são tantas e, sinceramente, não sei se faz sentido ficar se vangloriando por se destacar em uma única habilidade.
Falar que uma pessoa é mais inteligente porque fala muitas línguas é privilegiar apenas um tipo específico de inteligência. Automaticamente, todos os outros tipos acabam ficando em segundo plano na nossa escala invisível de “habilidades interessantes e socialmente valorizadas”.
Esses casos são muito simples de reconhecer na prática. Uma pessoa que fala várias línguas geralmente é chamada de “inteligente”. Mas isso quase nunca acontece com alguém que sabe cozinhar bem, pratica vários esportes diferentes ou persuade pessoas com facilidade.
Não deveríamos também chamar essas pessoas de “inteligente”?
Não superestime seu cérebro
Algumas pesquisas mostram que as conexões neurais de pessoas bilíngues funcionam diferente. E isso é verdade. Há uma forte corrente de pesquisas científicas interessada em investigar o processamento neurológico em pessoas com mais de uma língua materna.
Até onde se sabe, existe de fato diferenças no funcionamento do cérebro de bilíngues. Porém, isso vale apenas para os casos em que a pessoa aprendeu dois (ou mais idiomas) ainda em fase de aquisição de linguagem.
Mas se você não aprendeu duas ou mais desde pequeno, então é melhor você deixar de lado essa história.
Mesmo no caso de crianças com mais de uma língua materna, o “nível de inteligência” ainda é bem questionável.
E aí voltamos de novo para aquela discussão: o que quereoms dizer com “ser inteligente”?
Falar muitas línguas é uma realidade mais frequente do que parece
Às vezes, falar duas ou mais línguas é uma questão de pura necessidade. Isso acontece em qualquer região de fronteiras culturais.
Ao contrário do imaginário monolíngue brasileiro, em muitos países é absolutamente comum utilizar três idiomas – um para o ambiente domeśtico, outro para o ambiente público e um terceiro reservado apenas para assuntos oficiais [geralmente, é o idioma imposto pelo Estado].
Países europeus minúsculos não tem o luxo de ter uma única língua exclusiva.
Mesmo os mais bem estabelecidos – como Alemanha, Itália e Espanha – precisam lidar com a variação entre dialetos regionais e a língua padrão – isso para não contar o trânsito com os idiomas dos países vizinhos.
Na América Latina, é muito frequente a alternância entre o idioma oficial [espanhol] e outro idioma local de substrato indígena [quechua, guarani, zapoteca etc].
E se formos entrar no caso da Índia e da China, esse texto não vai terminar nunca!
E adivinha só? Ninguém chamaria todas essas pessoas de “mais inteligentes” apenas porque falam mais de uma língua, certo?
Moral da história
Espero ter conseguido deixar claro que essa relação entre “inteligência” e falar muitas línguas não ajuda em nada no seu aprendizado.
Muito pelo contrário.
Provavelmente ela está te colocando um bloqueio mental. Isso acontece com pessoas que desistem de aprender alemão justificando para si mesmas que somente pessoas “inteligentes” falam muitas línguas.
De agora em diante, você irá deixar essa desculpa para trás.
Combinado?
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