Existem muito mais músicas alemãs no nosso dia-a-dia do que você imagina.
Essas músicas típicas da autêntica cultura urbana brasileira são um ótimo exemplo.
Continue acompanhando o artigo e deixe-se surpreender!
Músicas alemãs que todo brasileiro conhece
Mesmo que você não seja nenhum grande especialista em músicas alemãs, você com certeza vai reconhecer essas melodias.
A única coisa que você ainda não sabia é a origem germânica delas.
Depois de terminar de ler esse post, você nunca mais vai cantarolar essas músicas sem conseguir pensar nisso.
Siga lendo o post e descubra!
Ta-tã-tã-tããããã
Outro dia, eu conversava descontraidamente com uma senhorinha atendente do supermercado enquanto ela passava as compras.
Enquanto isso, ela ia me contando um causo qualquer que tinha acontecido com ela naqueles dias. Lá pelas tantas, ela fez uma pausa microscópica na fala e, para criar um suspense, soltou um »tã-tã-tã-tããã!«.
Paguei as compras, fui embora mas depois fiquei me perguntando se a atendente de supermercado do meu bairro sabia que estava citando a 5ª Sinfonia de Beethoven.
Ou vai ver que ela estivesse citando a trilha sonora da propaganda política do PRONA – partido falecido nos inícios dos anos 2000.
Hmmm, pensando bem, acho que não.
Ninguém faria isso em sã consciência.
Baile dos passarinhos
Se você conhece essa musiquinha pelo Balão Mágico, Gugu ou Patati Patata, pouco importa.
O que importa é que, se você cresceu no Brasil, tem uma chance enorme de soltar uma risadinha de canto de boca quando ouvir as primeiras notas dessa música.
O título da canção original é Ententanz que, ao pé da letra, significa »dança dos patos«.
A melodia foi composta por Werner Thomas enquanto estava praticando o acordeão – pelo menos é o que dizem as lendas.
Bom, para ser rigoroso, Thomas vem da Suíça germânica – mas isso é só um detalhe!
Dá uma olhada nessa banda de fanfarra tocando na rua e a dancinha das crianças:
Ou se preferir, confere o que esse professor ~inspirado~ fez com a turma dele em sala de aula:
Bateu a curiosidade de saber o que eles cantam na segunda parte da música?
Para não deixar você na curiosidade, copiei para ti a transcrição desse trecho no original em alemão:
Ja, wenn wir alle Englein wären,
dann wär die Welt nur halb so schön.
Wenn wir nur auf die Tugend schwören,
dann könnten wir doch gleich schlafen gehn.
Traduzindo meio ao pé da letra, o significado seria algo como:
Se todos nós fôssemos anjinhos
Então o mundo seria apenas meio bonito
Se nós jurássemos pela virtude
Aí então poderíamos ir dormir já-já
Jingle Brahma Chopp (1991)
Nem todo mundo vai lembrar disso, mas a Brahma lançou em 1991 uma campanha publicitária com um jingle digno de Troféu Ohrwurm™.
Mesmo quem não bebia cerveja nessa época provavelmente vai conseguir relembrar na mesma hora em que ouvir o ritmo que consagrou o slogan »A número 1«.
Para ter uma noção do que era a publicidade brasileira nesses começos de anos 90, rolou até uma versão »chique« do jingle com interpretação de João Gilberto e acompanhamento orquestral.
Pois é – e pensar que as pessoas são capazes, sim, de vender cerveja sem usar mulheres seminuas [olha só, mas que revelação bombástica!]
A melodia original vem de uma canção chamada Liechtensteiner Polka, composta por um acordeonista alemão chamado Will Glahé.
Bem, não precisa nem dizer que a música se espalhou por todos os lugares do mundo onde houvesse cerveja e mais de duas pessoas meio alegrinhas.
Não está acreditando? Então ouça só essa gravação original:
Can can
Sim, é essa mesma que você começou a cantar mentalmente assim que leu esse título.
Você diria assim de cara que essa música é alemã?
Mesmo?
A maioria das pessoas tende a achar que ela é espanhola, mas, na verdade, é um trechinho de uma peça composta por Jacques Offenbach intitulada Orphée aux enfers [Orfeu nos infernos].
Apesar de ter passado a maior parte da sua vida na França, a cidade de origem de Offenbach é Köln – sim, lá mesmo onde tem a catedral e o carnaval mais maneiro da Alemanha.
Quem olha os figurinos e as coreografias nem imagina que essa música saiu das mãos de um alemão!
Marcha nupcial
A não ser que os noivos sejam daqueles moderninhos que casam em uma chácara ou em um bar, você tem 135% de chances de ouvir a marcha nupcial do Mendelssohn em uma cerimônia de casamento.
Bem, todo mundo já está meio enjoado de ouvir essa música, mas pelo menos agora você pode comentar com a pessoa entediada do seu lado que é uma composição alemã também!
Olha, se eu fosse você, daria mais uma chance e ouviria com atenção essa gravação com a Filarmônica de Berlim regida pelo maestro Cláudio Abbado:
É curioso como, às vezes, a gente deixa de ver a beleza das coisas só porque elas se repetem à exaustão
Com quem será?
Um clássico de festinhas de aniversário brasileiras – especialmente se o aniversariante está naquela fase problemática entre a infância e a adolescência em que “estar namorandinho” é uma vergonha pública.
Bom, às vezes essa fase acaba durando um pouco mais para certas pessoas, é verdade…
O que quase ninguém lembra é que a melodia do constrangedor »Com quem será« é também uma marcha nupcial.
Mas, dessa vez, retirada do »Lohengrinn«, de Richard Wagner.
Um dos maiores nomes do romantismo alemão mal poderia desconfiar que ia virar hino de aniversário no único país da América do Sul onde o »Parabéns a você« tem quatro versos totalmente diferentes.
Se você quiser fazer graça na próxima festinha e bancar o sabidão, pode cantar em alemão.
Aqui está a letra [mas só do pedacinho em questão, é claro!]
Treulich geführt
ziehet dahin,
wo euch der Segen
der Liebe bewahr’!
Em uma tradução aproximada, a letra diz mais ou menos o seguinte:
Fielmente conduzida
Caminha até ali
Onde a benção do amor
vos protege
Dramático, não?
Bem, o casamento de Elsa e Lohengrinn jamais poderia ser tão divertido quanto delatar para todo mundo quem é o parzinho/a do aniversariante!
Da da da
Mais uma vez a publicidade recicla músicas gringas que nem todo mundo conhece. Dessa vez, foi a Vivo que lançou em 2014 esse jingle para anunciar os benefícios da qualidade do sinal da conexão 4G.
Não sei se corresponde à qualidade do produto de fato, mas é um fato que a ambiguidade do verbo »pegar« foi uma sacada inteligente:
O que a Vivo e a agência nunca iriam te contar é que essa música é de uma banda alemã da década de 1980 chamada Trio.
É verdade que o Trio não é lá a coisa mais underground do mundo, mas, para quem não alcançou essa fase, o nome pode soar totalmente desconhecido.
Ich lieb dich nicht
du liebst mich nicht (4x)
Da da da
Pôneis malditos
Ainda no embalo dos anúncios, a campanha da Nissan »Pôneis Malditos« de 2012 também “se inspirou” em Wagner para vender a força de tração da montadora japonesa.
Depois do alvoroço causado pelo lançamento da campanha, os vídeos sequenciais da campanha parodiaram a abertura de Die Walküre [A Valquíria] do ciclo do Der Ring des Nibelungen [O anel de Nibelungo] de Richard Wagner.
Se você não se lembra do comercial de cabeça, vamos refrescar tua memória:
A obra original é um belo exemplo do estilo épico e sempre algo grandiloquente de Wagner.
Especialmente para você, pincei esse arranjo feito pela Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo.
A instrumentação é diferente do original (obviamente), mas vale bastante a pena conhecer o bom trabalho deles:
Musiquinha do gás
Sem sombra de dúvida, um dos casos mais enigmáticos de publicidade erudita-folclórica.
Quem cresceu em São Paulo (capital e arredores) nas décadas de 1980 e 1990, com certeza conhece a famosa »musiquinha do gás«. É engraçado pensar que o caminho de gás que passava circulando as ruas dos bairros mais suburbanos tocava uma peça de Beethoven – Für Elise.
O caso é bem conhecido do folclore paulistano – como se pode ver em qualquer cantinho mais informal da Internet – e já até virou tema de humor como nessa música de Wisnik e Tatit:
Quem já teve a experiência de ouvir ao longe a tal »musiquinha do gás«, vai reconhecer a cena imediatamente:
Por Elisa
Ficou tudo tão fugaz
Nunca mais eu tive paz
Nem precisa, tanto faz
Só o que me sensibiliza
É estar vivendo para Elisa
Mas Elisa agora está em todo lugar
Ouço ao longe o seu cantar
E vou correndo encontrar
Nunca está onde eu ouvi
Sempre passou por aqui
Foi por lá, foi por ali?
O fato é que, até onde pude pesquisar, não existem vídeos apenas do caminhão tocando a famosa »musiquinha do gás«.
Se alguém aí encontrar, faz favor de compartilhar com o mundo ali nos comentários!
Canção de ninar
Mentalize a primeira melodia que te veio à mente quando leu esse título.
Pois é.
Ela já é tão famosa que a gente nem sabe o nome dela – bem, eu pelo menos não conheço um nome popular, ao contrário do que acontece com »Cai, cai balão«, »Boi da cara preta« e similares.
Quase todo mundo reconhece essa melodia, mas quase ninguém sabe que está escutando o Opus 49 nº 4 de Johannes Brahms, um compositor alemão do final do século XIX.
Agora confira essa execução com violoncelo e piano e pensa comigo: não é impressionante como há tanta beleza escondida em coisas banais?
O leitor Leandro Ristow conseguiu resgatar a letra da composição original e mandou para nós nos comentários. Por isso, decidi inclui-la aqui para vocês tentarem cantar mentalmente!
Text: Des Knaben Wunderhorn, 1808 (1. Strophe), Georg Scherer 1824-1909 (2. Strophe)
1. Strophe
Guten Abend, gut Nacht,
mit Rosen bedacht,
mit Näglein besteckt,
schlupf unter die Deck:
Morgen früh, wenn Gott will,
wirst du wieder geweckt,
morgen früh, wenn Gott will,
wirst du wieder geweckt.2. Strophe
Guten Abend, gut Nacht,
von Englein bewacht,
sie zeigen im Traum
dir Christkindleins Baum.
Schlaf nun selig und süß,
schau im Traum’s Paradies.
Gostou de conhecer essas músicas alemãs?
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